sexta-feira, 30 de março de 2012

Mixtape - Hoje Vou Te Fazer Chorar

Eu estava relutando, mas uma hora ela teria que vir: a mixtape de músicas depressivas. Durante algumas semanas fui anotando o nome das músicas que já me fizeram chorar ou que, pelo menos, me deixaram com um buraco na alma. O resultado são essas 14 canções, entre músicas brasileiras, americanas e européias.

Começa com Pato Fu dizendo que não é por mal, mas hoje vai te fazer chorar, e é bom você acreditar e estar com os lenços de papel preparados, porque daí em diante é só ladeira abaixo. Tem Damien Rice (oconcur quando o assunto é música deprê) e seus 9 crimes, tem Radiohead com Karma Police e Creep (que aqui aparece numa versão cover do coral feminino Scala and Kolacny Brothers), tem Cássia Eller cantando Lanterna dos Afogados, Chico Buarque engasgando com Trocando em Miúdos e Cartola interpretando O Mundo É um Moinho (também conhecida como "Música Mais Triste do Universo"). Destaque para Amy Winehouse fazendo Love is a Losing Game acompanhada só do violão  e a lacrimosa Ne Me Quitte Pas, de Edith Piaf (a grande dama da dor). Tudo termina com o sucesso da jovem guarda Filme Triste, que deixa o clima um pouco irônico e infantil, como toda boa crise de depressão.

Como vocês já sabem, a mixtape vem organizadinha, com capa e contra-capa, e pronta para o iTunes. Pode baixar numa boa e deixar tocando enquanto você chora em posição fetal.




Outras Mixtapes:

Músicas de natal: Por um Natal Sem Uva-Passa
Vozes sexys femininas: So Wet, So Tight

quinta-feira, 29 de março de 2012

Psico-Dramas dos Anos 90


É uma satisfação e um consolo já poder me referir aos anos 90 dessa forma... Como se eles tivessem passado há muito tempo. Eu meio que sempre tive inveja do pessoal que nasceu nos anos 80 porque eles falavam da década deles como uma época maravilhosa de discos dos Menudos, figurinhas de chiclete e brinquedos incríveis e interativos. Os 90 ainda não eram dignos de nostalgia. Mas agora são. Já somos adultos (pelo menos quem nasceu na primeira metade), estamos na faculdade e podemos olhar pra trás com orgulho e saudade.

E percebi dia desses que quase todos os meus filmes preferidos foram produzidos entre 1990 e 1995. Acho que foi a época em que meu pai mais pirateou filmes da locadora pra nossa coleção particular. Tínhamos umas 200 fitas VHS gravadas em EP com três filmes cada. E foi aí que eu me apaixonei por cinema. Descobri que eu não precisava ficar revendo O Rei Leão incansavelmente. Que podia ver filmes de adulto e que meu próprio pai tinha ótimos exemplares bem ali, na estante da sala. Foi assim que fiquei conhecendo os Batmans do Tim Burton, Os Batutinhas, A Convenção das Bruxas, A Família Buscapé, A Morte Lhe Cai Bem... E algumas coisas um pouco mais pesadas como O Exorcista, Carrie - A Estranha e Assédio Sexual, que eu só via quando ficava sozinho em casa.


Ontem revi O Anjo Malvado com a Esthéfane e foi uma experiência maravilhosa. Tenho um carinho todo particular por esse filme. Acho que me impressionava muito ver um menino da minha idade fumando, atirando em cachorros e tentando matar a própria irmã. E toda criança se sente um pouco malvada, né? Então eu ficava me perguntando se algum dia chegaria no nível Macaulay Culkin de crueldade. Felizmente não fui tão longe. Mas ainda hoje acredito na psicóloga de Mark quando, interrogada sobre a possibilidade de alguém ser mau sem motivo aparente, ela diz: "não acredito em maldade". E realmente... Minha avó sempre defendeu esse raciocínio. De que todo mundo tem toneladas de motivos, sejam eles frutos de um trauma ou de uma doença.


O Anjo Malvado é de 1993 e deve ter causado o maior rebuliço na época por levantar essa hipótese de que seu próprio filho é um psicopata. As mães piraram. Dois anos antes, o mesmo diretor já tinha feito Dormindo com o Inimigo, excelente thriller com Julia Roberts, que também colocava um assassino dentro de casa. Dessa vez ele surge na figura de um marido obsessivo-compulsivo que achava ok espancar a mulher por ela ter deixado a toalha torta no banheiro.

Acho que até então nenhuma época do cinema soube abordar tão bem esses transtornos psicológicos e colocar o bandido tão perto de nós. Podemos dizer até que foi uma ótima introdução pros anos 90. A década responsável por toda essa geração que hoje economiza a mesada pra pagar o analista.

terça-feira, 27 de março de 2012

Verbo Impessoal

Há muito tempo quero fazer um post sobre O Haver, poema de Vinícius de Moraes que, além de ser o meu preferido, é também um dos textos que mais soube traduzir essa angústia com relação à vida, ao tempo e ao amor.

Por sua extensão poética (e temática), nem se eu quisesse conseguiria falar dele num dia só. Então resolvi separar as estrofes e ir fazendo breves comentários sobre cada uma conforme a vontade ou inspiração surgirem.

Recomendo fortemente que vocês ouçam o poema na íntegra, narrado pelo próprio Vinícius nesse vídeo, antes de ler o post. E que tirem suas conclusões. E falem sobre elas aqui, porque poesia tem essa vantagem de não ser conclusiva. E de não precisar fazer sentido.

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
Perdoai! Eles não têm culpa de ter nascido

O poema já começa falando do que resta. Muito já se perdeu, não tem o que fazer. Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura. E nem é pra todo mundo. Ser terno é um esforço e um talento. Os artistas conseguem, as mulheres conseguem, as crianças conseguem...

E essa intimidade perfeita com o silêncio só quem já se sentiu realmente sozinho consegue alcançar. É uma espécie de conforto de se bastar. De conseguir passar horas inteiras sem ouvir outra voz e sem se desesperar por isso. De fazer do silêncio um companheiro íntimo.

É um cenário por demais melancólico esse que o poeta desenha pra apresentar seu eu-lírico. E quando ele começa a falar de perdão, aí você percebe o tamanho do "desamparo" e da total falta de esperança desse homem. Não estamos só pedindo perdão. Estamos pedindo perdão por tudo.

E o final da estrofe quase sempre me faz chorar, com o discurso bíblico e a voz de Cristo a pedir perdão por nós. É justo e necessário.

Não temos culpa de ter nascido.

terça-feira, 20 de março de 2012

Carl Fredricksen


Semanas sem escrever nenhuma linha porque, ironicamente, comecei meu curso de letras. Acho até que a tendência é essa mesmo. Vejo minha irmã, que alimentava infinitos blogs na adolescência dela (quando ter blog era uma coisa legal) e que parou de escrever quando começou a fazer letras. Acho que ou você fica excessivamente crítico com seu próprio texto e começa a achar tudo uma porcaria ou você toma birra da palavra escrita de tal forma que só quer saber de plantar bananeiras quando está fora da sala de aula.

Também pode ser falta de tempo, porque tenho um professor que é o velhinho do Up, só que sem a rabugice. E ele é tão fofo e inteligente que a gente nem percebe que está sendo arrastado rumo ao abismo infinito dos clássicos entediantes. Temos uns 7 livros pra ler no semestre e tudo no nível Os Lusíadas de animação. Vai vendo.

Como se não bastasse, nosso amigo Carl Fredricksen faz provas de leitura (6ª série, você por aqui?), cobrando detalhes absurdos que nem quem decorou os livros consegue lembrar. Reza a lenda que é impossível passar com um MS, mas adaptando ao meu caso, acho que é impossível passar e ponto.

terça-feira, 6 de março de 2012

Crítico de Transporte Público Rodoviário

Hoje eu tava pensando que deveria existir uma profissão que resenhasse motoristas de ônibus. Assim como exitem críticos de filmes, livros e discos. Porque são muitos aspectos a serem avaliados e o transporte público, mais que um meio de locomoção humilhante e precário, é também uma arte.

Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos artistas.

Geraldo, do 501.
É velho. E por aí você já percebe que não brinca em serviço. É rápido, mas a experiência lhe ensinou a ser cauteloso. Faz uma direção extremamente segura e constante. Nada de freadas bruscas, curvas acentuadas ou gente caindo pelo corredor. Extremamente cortês, gosta de sorrir pra todos os passageiros que entram (sorrisos 0,3 segundos mais longos, se o passageiro for do sexo feminino). Usa bolinhas de massagem no banco.

André, do 110.
É o pior tipo de motorista. Tem lá seus 40 anos, uma pança respeitável em cima do cinto e toneladas de descaso. Acha o máximo parar pro cobrador comprar pastel, como se o ônibus fosse dele, e finge que não vê 70% das pessoas que dão sinal. Não gosta de parar em semáforo, não gosta de parar em parada, não gosta de dirigir. Tá ali só porque precisava pagar o leite das crianças e não sabia fazer mais nada da vida além de ser babaca.

Zé Carlos, do 526.
É velho e tem bigode. Ou seja: GÊNIO DA DIREÇÃO. Porque nada caracteriza mais um bom motorista de ônibus que grandes e sensuais bigodes grisalhos. E o Zé parece um monstro no volante. Sua corrida dura sempre a metade da de qualquer outro da mesma categoria. Ele voa! E faz balão, e ultrapassa carro do ano, e entra em cruzamento perigoso buzinando like a boss... Tudo isso sem nunca deixar de pegar ninguém em suas respectivas paradas. Dá sorrisos ainda mais longos que o Geraldo do 501. Uma graça.

Baiano, do 600.
O poder subiu á cabeça e agora ele acha que dirige uma BMW. Usa óculos escuros, o que seria normal se não fosse um daqueles coloridos que são vendidos no verão de Niterói por 15 reais. Não fala com ninguém, porque se acha muito importante. E dá certa pena, porque realmente existe um potencial. Talvez é só esperar passar o deslumbramento com o primeiro emprego. Daqui a alguns anos, quem sabe, ele não começa a sorrir um pouco mais, compra bolinhas pra massagear as costas e até deixa o bigode crescer?

sexta-feira, 2 de março de 2012

As Férias Mais Longas do Mundo


É claro que eu não deveria reclamar. Ninguém em sã consciência reclama de férias longas demais, mas meu dinheiro tá acabando e férias é uma coisa que, por si só, gasta dinheiro. Como a gente tem muito tempo livre e muita tendência à felicidade, acaba pegando todas as sessões de cinema e comendo fora todos os dias e inventando programas (caros) pra disfarçar o tédio. E o preço de tudo anda tão absurdo que vou ter que aumentar minha hora-aula pra dar conta de viver.

Passar o dia à toa é uma delícia, mas ainda acho que nada supera o prazer de estudar, trabalhar e não ter tempo pra pensar. Quando você passa um dia completamente abarrotado de compromissos e leituras e exercícios, é muito pouco provável que encontre tempo pra refletir sobre a vida. E sinceramente, é a última coisa que tenho desejado fazer. Quanto menos pensar, menos paranoico, preocupado e pessimista vou ser. Não sou do enfrentamento e essa minha tendência à subjetividade tem me cansado profundamente de uns anos pra cá.

Existe algo de mágico no estilo de vida dessa gente que põe a mochila nas costas e vai fazendo o que tem de fazer. Sem parar, sem pensar, sem sofrer. Porque eles não abrem espaço pra contemplação, pra reflexão e pra muito provável conclusão de que nada realmente importa.